Programa > Multilinguismo em Comunicação Científica
Resumo
O multilinguismo pode ser pensado em sentido amplo, referindo-se a diferentes tradições ou culturas existentes nos diversos campos disciplinares; ou em sentido mais estrito, referindo-se ao uso de mais de uma língua na divulgação da produção científica.
No campo da saúde coletiva, existem diferentes culturas e tradições de produção e divulgação de resultados científicos que trazem para os periódicos da área a necessidade de compatibilização de normas e padrões para acolher essa diversidade. Por exemplo: as disciplinas das ciências sociais em saúde geralmente têm autoria única, utiliza metodologias qualitativas, textos mais extensos e notas de rodapé como parte de suas tradições de comunicação científica. Já as disciplinas do campo da política, planejamento e gestão em saúde têm a comunicação científica centrada no relato de experiências e nos estudos de caso. A epidemiologia adota padrões de comunicação científica ma
is próximos àqueles utilizados pelas biociências.
Em sentido estrito, o multilinguismo nos remete à discussão da pertinência de publicar todos os periódicos em inglês, considerada a língua franca da ciência, ou manter o espaço para línguas nativas como línguas de ciência. O uso do português como língua científica visaria atingir pelo menos os 250 milhões de habitantes da comunidade de países de língua portuguesa. Dentre esses países apenas Brasil e Portugal estão presentes, através de seus periódicos científicos, no cenário internacional. A base Scopus registrou em 2008, 15.389 artigos em periódicos brasileiros com índice H variando entre 0 a 38 e fator de impacto máximo de 1,44. Portugal divulgou na mesma base 452 artigos em periódicos com índice H variando de 0 a 17 e fator de impacto máximo de 0,54.
A Revista de Saúde Pública passou por diferentes fases com relação ao multilingualismo. Entre 1967 e 1971 publicou exclusivamente artigos em português; entre 1
972 e 2003 foram acei tos e publicados artigos em português, inglês e espanhol segundo a preferência dos autores; de 2004 a 2008 os artigos continuaram a ser aceitos nas três línguas mas passou a ser oferecida aos autores a possibilidade de custear a versão em inglês disponível na versão on-line da revista. Finalmente a partir de 2009 a revista obteve financiamento que está possibilitando a tradução de todos os artigos.
A opção por manter a publicação multilínguas na versão impressa visa atender ao compromisso político da área, preservando o caráter aplicado da produção e dialogando com os diferentes públicos formados por pesquisadores, profissionais de saúde e gestores. O uso do inglês na versão on-line visa dar maior visibilidade para a produção brasileira na área, aumentar a circulação do conhecimento e atrair autores estrangeiros.